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Relatos: A voz do abuso

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*Nomes alterados para proteção das vítimas.

 

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Patricia Silva, 23 anos

 

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Me casei aos 17 anos, por estar apaixonada não conseguia ver o quanto eu era humilhada.

Na época eu não trabalhava, então as humilhações por falta de dinheiro com as contas só aumentando eram constantes.

Não podia abrir a boca para nada, mesmo que fosse para achar uma solução para as dívidas. Logo vieram as agressões verbais, ele queria a todo custo que eu emagrecesse. Achava que ele queria me ver bonita.

Tomei, inclusive, remédios para emagrecer e não adiantou nada. Ele me impediu de tirar a habilitação, mas com muita força de vontade eu consegui.

Nunca tive apoio dele em nada, pelo contrário, ele tentava a todo custo me rebaixar para eu não tentar. Me sentia culpada até mesmo pelas agressões físicas. Sempre que ele era contrariado, quebrava alguma coisa para me desestabilizar. Já cheguei a ter todas as roupas do roupeiro jogadas no chão por não querer desistir de um compromisso.

Ele praticamente me obriga a pensar em filhos, mas graças a Deus eu não tive a sorte de ser mãe ainda. O nosso apartamento, ele faz sempre questão de dizer que  comprou sozinho , que nunca precisou de mim para nada. Aliás, eu não sou nada. Infelizmente não consigo sair desse relacionamento, não tenho forças, ânimo para nada.

 

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Natalia Oliveira, 21 anos, relacionamento abusivo em namoro

 

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Começou assim, eu tinha 14, ele 18, irmão da minha melhor amiga. A gente foi começar a namorar mesmo quando eu tinha 15, bem na minha festa de 15 anos, e, tipo, foi super de boa, bem tranquilo. Em abril, eu sei que já tinha começado as minhas aulas e ele já tinha se formado no ensino médio. Na época eu cursava ainda. Tudo começou com o MSN, ele tinha minha senha. Também tinha minha senha do orkut, do twitter e começou com cobrança. Eu sempre dava explicação que não tinha nada ver conversar com outra pessoa, não era um problema e começou assim, só que, tipo, o ciúmes foi ficando demais e a minha mãe percebeu. A minha mãe e a dele, porque a gente era praticamente vizinho. A mãe dele conversou com ele e minha mãe falou comigo e disse que aquilo tinha que parar porque estava fazendo mal pra mim. Acabei brigando com minha mãe. A mãe dele conversou com ele e deu uma maneirada, só que durou pouco e logo em seguida já estava tudo pior. Não podia falar com minha melhor amiga. Não podia ir na casa dele e falar com ela porque se ele ficasse sabendo ia ficar bravo porque dizia que a gente ficava falando de guri. Ela era minha melhor amiga muito antes dele ser qualquer coisa minha e eu não podia falar com as minhas amigas que eu estudava, não podia porque ele dizia que a gente ia ficar falando coisinha dele e falar com guri, então, era tipo pedir para a tempestade chegar. As únicas pessoas que ele aturava eram meus irmãos por motivos óbvios, mas os meus primos que a gente morava tudo muito perto um do outro, ele ficava possesso de ciúmes, não tinha porque ter ciúmes, tipo minha família, ele não tinha que ter ciúmes de outras pessoas. Na época não enxergava isso como um problema, achava que ele era muito inseguro e tudo mais, dava muito desconto e minha mãe já estava chateada da primeira vez, então tava ficando muito brava da segunda. Fui me dar conta que estava em uma situação ridícula quando ele pegou e falou que eu tinha que me afastar da minha mãe porque não tava certo isso, porque ela estava contra a gente. Quando ele falou, eu fiquei: É verdade, ele tem razão”. Só que  conversei com a minha tia e ela afirmou: “Nicole, você tem que parar, sentar e pensar, porque se uma pessoa está te afastando de todo mundo só para ficar com ela, essa pessoa não bate bem da cabeça”. Agora eu sei que era, na época eu achei que não era nada. Falei com a irmã dele também e ela disse que não ia se meter porque ela era minha melhor amiga, mas ele era irmão dela. Quando a gente terminou foi muito, muito difícil, porque quem terminou fui eu, mas mais por causa da minha mãe, porque se fosse por mim eu não terminava. Ele não aceitava e a gente veio e voltou mais umas duas vezes e terminou, terminou mesmo foi no outro ano. Eu já estava com 16 porque meu pai sentou e conversou comigo, porque eu não estava legal, rodei no primeiro ano do ensino médio por causa disso. E meu pai disse: Não estou colocando a culpa em cima dele, mas muita coisa que aconteceu nesse ano a culpa foi dele porque você estava muito focada, teu mundo girava em torno disso. Foi aí que decidi que era o ponto final mesmo. Depois eu me mudei o espaço ficou grande, perdi o namorado, perdi a melhor amiga e minha mãe perdeu também porque a mãe deles também não quis mais contato.

 

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P: Ele alguma vez tentou te agredir?

 

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Ele nunca chegou a me pegar pelo braço, nem fazer menção de me jogar na parede, mas ele gritava muito, levantava muito a voz e fazia joguinho psicológico do tipo "você não me ama de verdade”. Isso me cansou muito, me desgastou muito.

 

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P: Ele chegou a te proibir de sair?

 

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Eu não podia sair se fosse para sair, só com ele. Na época dos 15, eu fui a última a fazer 15 anos, então, a minha festa de 15 anos foi a última de todas as minhas amigas, então, quando a gente ia nas festas antes, começamos a nos envolver. Depois eu comecei a sair não podia mais sem ele, mesmo se fosse para uma comemoração idiota que era na casa de alguém que ia até às 22h. Se eu fosse, a gente brigava muito por causa disso, mesmo se a irmã dele fosse.

 

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Camila Santos, 21 anos, relacionamento abusivo na amizade

 

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Uma amiga que era abusiva, mas era uma coisa mais discreta, coisas do tipo: ela não gostava que eu falasse com outras pessoas por conta de ciúmes, ou então sentir uma admiração por mim.

 

Só que tudo que eu fazia, ela fazia.  Tudo que eu tinha, ela queria

ter. Uma vez aconteceu de ficar com um menino que ela gostava e ela surtou. Entendo de ficar chateada, só que ela dizia que não era minha culpa porque eu era perfeita, mas ao mesmo tempo ela me culpava. Tudo que eu fazia era um gatilho para ela, só que quando ela falava essas coisas ela jogava minha cara sabe, dizendo coisas como “Você fez isso e é um gatilho para mim porque falou tal coisa". Tinha que me cuidar muito porque qualquer  coisa que falasse ela ia se matar e umas coisas assim de ameaçar mesmo: "Ai porque eu quero me matar, eu quero morrer” por causa dessas ações assim que eu tenho/tinha, e isso sempre foi uma coisa sufocante.

 

Eu não sei se é de propósito, eu acho que uma parte dela sabe que é de propósito, tem noção, mas ao mesmo tempo, acho que ainda tem uma inocência por trás.

 

Se eu não ia na aula, ela ficava sem falar com ninguém porque eu não estava ali. Se ela não fosse e eu falasse com outras pessoas, aí ela ficava chateada que eu falei com outras pessoas que não eram ela, em vez de ficar triste porque ela não foi na aula.

 

Quando eu comecei a perceber isso, fui me afastando e aí chegou um dia que ela perguntou assim: “O que tu pensa quando me vê?”. Eu disse: "Como assim?”. E ela: “Antes eu sentia segurança, agora parece que você não me quer mais, parece que você vai chutar minha cara quando me vê”. Sendo que eu só estava me afastando, não era uma coisa de olhar para ela com raiva, era algo do tipo "estou quietinha na minha".

 

Um dia que eu estivesse mais quietinha, ela ia achar que eu estava brava com ela.

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